domingo, 22 de junho de 2014

CONCURSO "A MELHOR CARTA"

Não foi a carta vencedora mas foi escrita com o coração e ficou linda. A autora desta carta, enviada para o concurso de cartas promovido pelos CTT (este ano subordinado ao tema da música), é da autoria da Catarina Oliveira, 7ºC.

Arrifana, 13 de janeiro de 2014
 Querida guitarra clássica:
Nunca me esquecerei do dia em que entrei na loja para te comprar. Vi tantos instrumentos e, nesse momento, sonhei que era perita em música e saberia escolher facilmente o instrumento perfeito. Comecei a tocar em todos eles, a roubar-lhes sons, e a minha mãe deu-me um raspanete por ter medo que eu estragasse algum. Então, dirigi-me ao setor das guitarras. Todas lindas, mas nenhuma me despertou um interesse especial. Foi então que te vi. Parecia que me chamavas e nasceu ali um amor musical, um amor à primeira vista. Não me contive e peguei-te. Comecei a tocar-te e tu nem desafinavas, era como se eu já conhecesse todos os teus recantos.
A minha mãe conversava com o vendedor e eu disse-lhe que era a ti que eu queria, eras tu a minha eleita. Quando ela viu o preço, assustou-se. Eras muito cara e eu deveria procurar outra mais barata.
Mas eu apaixonei-me no momento em que te vi e não poderia deixar-te na loja. Então, recorri ao dinheiro que tinha tirado do meu mealheiro, às escondidas, e disse ao vendedor que era a ti que eu levava. A minha mãe enfureceu-se um pouco e afirmou que não te pagava. Peguei no dinheiro e gastei-o todo contigo. Mas valeu a pena, não me arrependo de nada.
O tempo foi decorrendo, lentamente, e o nosso amor aprofundou-se. Aprendi a conhecer todos os teus segredos e a música saída das tuas cordas sempre me fez esquecer o mundo.
Ainda me lembro do nosso último concerto. A sala engalanada estava cheia e o público calado, tão calado que eu me esqueci que lá havia gente. Para mim, naquele momento, só tu e eu, em harmonia, existíamos.
A melodia ocupou todo o espaço e eu senti-me nas nuvens. Parecia que tinha acabado de chegar a outro mundo onde a maldade não existia, como se só houvesse música e felicidade. Senti uma tranquilidade enorme e uma forte ligação entre nós as duas. Fizeste-me esquecer tudo, todos os meus problemas, angústias e frustrações. Contigo, eu podia desabafar, esvaziar a alma, começar do zero. Podia até ficar ali para sempre. Alimentava-me de ti.
A música que sai do teu corpo traz-me alegria, (por vezes, alguma tristeza), oferece harmonia à minha vida, dá-lhe sentido e todos esses sentimentos são bem-vindos. Sim, a música tem esse poder: lava-nos o corpo e o espírito.
Para mim, os compositores não são pessoas comuns que inventam partituras. Os compositores são anjos! Mas não são anjos comuns. São anjos especiais que me dão a música que eu toco no teu corpo. São anjos que brincam com os sons e me convidam a entrar na brincadeira. Eles criam melodias lindas e eu divirto-me a fazer-te cócegas. Sem eles, não teria música e não seria feliz.
Sim, eu sei! Sei que a música está em todo o lado, não está apenas nas pautas. Está nas palmas que ouço no final dos concertos; está na canção do vento e na dança das folhas das árvores; está nas ondas que batem na areia; está nas asas de uma gaivota que voa em liberdade e na voz das aves que chilreiam no parapeito da minha janela. E está, também, na minha voz. A voz é um lindo instrumento, não achas?
E, por falar nisso, conheces aquela velha adivinha que é assim: “Que instrumento pode ser ouvido mas não pode ser visto nem tocado?”
A resposta é a voz, claro! Quando alguém canta, a voz pode ser ouvida mas ninguém a vê; mesmo sabendo que está por todo o lado, ninguém lhe pode tocar.
Eu posso tocar-te mas já não o faço há muito tempo. Estou com muitas saudades de tocar contigo numa sala de espetáculos. Bem sei que estás um pouco zangada por eu não te pegar mais vezes, ultimamente. Mas não posso! Continuo a adorar-te mas, cresci e tenho mais trabalho a cumprir. Encontrei um amigo teu, um violino, para poder frequentar o ensino articulado de Música pois, na minha escola, não há aulas de guitarra clássica. Ter aulas fora da escola, no ensino privado, está fora de questão pois estão cada vez mais caras e eu não me posso dar a esse luxo. Ainda não sei tocar muito bem e tenho de praticar muito uma vez que é o violino que me vai dar as notas escolares, no final de cada período. Serão outras notas e outras pautas mas, se praticar bastante, também me darão harmonia!
Se eu pudesse aprender e tocar todos os instrumentos do mundo! A música que sai dos vossos corpos influencia o meu ser, dá-me calma para enfrentar os problemas.
Preciso que voltes para a minha vida, preciso de ti e da tua melodia para ter sossego.

Um abraço bem apertado da:
Catarina

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